CLARET E O CONCÍLIO VATICANO I

Dez 8, 2019 | Aniversários, Congregação, Fundadores

Em 29 de junho de 1868, o Pontífice Pio IX abalou o mundo com a bula “Aeterni Patris”. Com ela convocava um concílio ecumênico que devia começar na festa da Imaculada, 8 de dezembro de 1869. Como os Bispos titulares também haviam sido admitidos, o Padre Claret foi incluído na convocação. Lá o padre Claret encontrou o Bispo Caixal, seu grande amigo e colaborador de toda a vida, a quem o governo revolucionário da Espanha negou seu passaporte para participar do Concílio, mas que passou as fronteiras como governante de Andorra e desde a primeira cidade da França havia comunicado aos perseguidores que estava indo a Roma para cumprir a vontade do Papa.

Assim, o Pe. Claret, embora pessoalmente tenha intervindo pouco, por vários motivos, nas Congregações, teve muito peso no andamento das mesmas, graças àquela seleta representação de prelados que ele escolhera. De fato, com ele se misturavam, e com grande vigor e fidelidade estavam sempre nos avanços do dogma sobre a infalibilidade pontifícia, ajudando a derrotar efetivamente os porta-vozes do galicanismo em suas várias formas e manifestações, a verdadeira e mais obstinada oposição do concílio.

Assim, pois, no dia 8 de dezembro de 1869, abriu-se a assembleia com toda solenidade no braço direito do cruzeiro da basílica de São Pedro. O Pe. Claret estava entre os últimos, entre os arcebispos mais veneráveis. Ele era o número 40 por antiguidade em sua promoção, e via diante de si a juventude da Igreja Católica, que se renova incessantemente. Quando a assembleia conciliar, após um breve período de suspensão, se reuniu novamente, muitos lhe contemplavam, venerável entre todos, como o santo do concílio.

Oito dias após a abertura, ele havia escrito ao Reverendíssimo Pe. Xifré, refletindo suas primeiras impressões e dando algumas notícias sobre o movimento das tarefas conciliares: “O santo concílio começou e continua muito bem, graças a Deus; as sessões são realizadas em uma das capelas do cruzeiro do Vaticano, preparada para isso… estou no número 40. Sou dos antigos”. A partir daquele dia memorável, o Pe. Claret entregou-se de corpo e alma aos trabalhos de tão augusta reunião. Apenas há cartas desses dias em que ele faz alusões a eles, embora o segredo imposto aos conciliares continha uma discretíssima reserva, que ele nunca se permitiu passar nem um pingo. Aos 13 de dezembro, ele escreveu à Madre Paris: “Estamos participando das reuniões do santo concílio, e continua muito bem, graças a Deus. Espero grandes coisas deste santo concílio. Peçamos muito a Deus e à Santíssima Virgem em cujo dia começou.”

E ao Pe. Xifré, no dia 14 de maio de 1870, ele contava: “Logo receberá as Resoluções do Concílio; estou muito ocupado; às vezes saio com a cabeça carregada como um bumbo; hoje é um dia desses; já vê que até esta carta contém erros. Chegam para mim muitos encargos e assuntos de muitas partes, o que me deixa muito incomodado e cansado”. E a Paladio Currius escrevia a 17 de junho: “Estou muito ocupado. Quase todos os dias temos Concílio ou Capela papal. Saio de casa antes das 8 e não volto até as 2 da tarde, às vezes com a cabeça como um bumbo. No dia 29 de maio passado, me deu um mal-estar que a língua já não podia falar claramente…”

Das Congregações que foram se sucedendo para discutir a questão da infalibilidade pontifícia, foi notável a de número 52 celebrada no dia 19 de maio. Nela, Hefele, Bispo de Rotenburgo, proferiu uma extensa dissertação, apurando as objeções históricas contra a infalibilidade. O Cardeal Arcebispo de Viena corroborou com outro discurso, que teve certo efeito entre os Padres conciliares. O arcebispo Claret, cuja saúde e outras circunstâncias não lhe permitiram intervir ativamente nas discussões das Congregações Gerais, ao ouvir os discursos deste dia, não pode mais se conter e propôs levantar também sua voz no concílio como testemunha da fé.

O golpe recebido foi fatal. Embora os banhos e remédios prescritos pelos médicos o tonificassem um pouco, o Padre Claret ficou ferido e debilitado em sua saúde, a ponto de não poder corrigir as provas do livreto “As duas bandeiras”, que ele estava preparando; no entanto, que ainda fez o possível para escrever e seguir as deliberações do concílio. A esta situação de mal-estar e impotência orgânica, devemos acrescentar que Claret levou uma vida pobre e mortificada como nunca antes; nem carro ele tinha para os seus constantes deslocamentos para as reuniões, nem empregados a seu serviço, nem dinheiro para as mil conveniências e comodidades que Roma poderia podia lhe oferecer. Uma pobreza que era completamente voluntária, já que uma palavra sua Isabel II, a Naudó, ao Pe. Xifré ou D. Dionisio seria suficiente para lhe prover abundantemente de dinheiro, com imensa satisfação dos remetentes; mas ele desfrutou de seu abandono nas mãos da Providência, que, por outro lado, tampouco o abandonou em suas necessidades mais essenciais.

Todos os romanos que lhe trataram, escreve o capelão Pe. Lorenzo Puig, ficaram admirados por sua simplicidade e modéstia; de modo que um dia uma certa pessoa de alto nível, que conhecia bem o arcebispo, disse que era o mais edificante de todos os padres do concílio. E, confirmando isso, um padre espanhol, chamado Hilario Torrens, estando na Basílica de São Pedro, em uma ocasião em que os bispos se reuniram, disse: “É preciso fazer justiça, pois de todos os Prelados e demais Padres que vi entrar na sala do concílio, o mais modesto e edificante de todos é o arcebispo Claret”.

Pe. Placide Sumbula, C.M.F.

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