Claret insiste que do sangue do Coração de Maria o Espírito Santo formou a humanidade de Jesus. Isto é, que aí começou o grande mistério de amor que é a Encarnação. Mas aí começa também o que o teólogo alemão J. B. Metz chama de “memória perigosa”. Quer dizer, uma memória que não é uma recordação sentimental, mas a lembrança de uma coragem que desencadeia uma realidade provocatória. Começa a vida de um Messias que é alternativa. Não nasce um Messias Rei em um palácio, nem vai apresentar a novidade do Reino como apoio aos afãs de poder, prazer e ambição, mas o Reino que é amor, serviço, justiça e paz.

É o contraste que assinala Bento XVI na entrevista que lhe faz o jornalista Seevald e que depois reproduz no livro “Luz do Mundo”: por um lado, “o homem procura uma alegria infinita, procura o prazer até o extremo, procura o infinito”; mas umas páginas atrás denuncia o perigo de que esta busca de infinito se desvie pelo mundo da droga, do turismo sexual ou de outras formas de falsa felicidade: “Devemos dizer, e viver também, pois o infinito que o homem busca só pode vir de Deus”.

No fundo, a convicção de Claret está no símbolo do “Coração de Maria” onde está a síntese de todas as invocações que se cantam no mundo inteiro. Mas, sobretudo, tem a certeza de que os momentos auges ou os mistérios da vida da humilde nazarena nascem e tomam um profundo sentido da força e do amor que brota do seu Coração. Como diz o Concílio, “ao abraçar com todo coração… a vontade salvífica de Deus, se consagrou totalmente como escrava do Senhor à pessoa e obra do seu Filho…” (LG 56).

Que perspectivas tão profundas se abrem ao contemplar Maria, Mãe de Jesus e nossa, mas também primeira peregrina na fé e a mais perfeita Discípula!